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Como Funciona a Instalação de Geradores

Tudo o que você precisa para ter uma instalação de gerador confiável e sem transtornos

 

No Brasil, em 2023, a interrupção média de energia foi de 10,43 horas por unidade consumidora, com uma média de 5,24 quedas ao ano, segundo dados oficiais da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL).

 

Esse cenário, embora represente uma melhora histórica nos indicadores nacionais, ainda impacta de forma significativa regiões rurais e estados como Piauí e Maranhão, onde a indisponibilidade tende a ser maior devido a desafios de infraestrutura e clima.

 

Além do impacto financeiro direto, as falhas elétricas figuram entre as principais causas de incêndios e acidentes industriais, tornando a conformidade com normas técnicas obrigatória para mitigar riscos humanos, legais e de imagem.

 

Assim, instalar o gerador de energia, nesse contexto, deixa de ser um simples acessório e passa a ser um verdadeiro seguro de receita e continuidade operacional, protegendo a instalação contra prejuízos e garantindo a estabilidade das operações.


1. Dimensionamento Correto: A Base de Tudo

Fonte: Autor próprio

 

1.1. Cálculo de Potência Real

O dimensionamento correto da potência de um gerador começa pela classificação das cargas conforme sua prioridade operacional. 

 

As cargas críticas são aquelas que não podem parar, como sistemas de refrigeração e linhas de processamento contínuo. As cargas essenciais podem ser racionadas temporariamente em situações de contingência, enquanto as cargas adiáveis podem aguardar o retorno da rede elétrica sem prejuízo imediato à operação.

 

Um fator frequentemente negligenciado no cálculo é a corrente de partida dos motores. Motores com partida direta podem exigir de 6 a 8 vezes a corrente nominal no momento da partida. Quando se utiliza soft-starter, esse fator cai para 2 a 3 vezes a corrente nominal, e com inversores de frequência, a exigência é de 1,1 a 1,5 vez a corrente nominal.

 

Para facilitar o dimensionamento, algumas regras práticas são adotadas: para cargas predominantemente resistivas ou eletrônicas, recomenda-se considerar entre 0,8 e 1,1 kVA para cada kW de potência ativa. Já em instalações com muitos motores de partida direta, o ideal é adotar de 1,5 a 2,5 kVA por kW, ou então programar partidas sequenciais para evitar sobrecarga no gerador.

 

É fundamental prever uma margem de crescimento de 20 a 30% na potência total estimada, especialmente quando há previsão de expansão da operação nos próximos 12 a 24 meses.

 

Por fim, o fator de simultaneidade deve ser aplicado conforme o cenário operacional (normal, pico ou contingência), garantindo que o gerador seja capaz de atender à demanda real sem surpresas ou subdimensionamento.

1.2. Escolha do Combustível e Regime

A escolha do combustível e do regime de operação do gerador é um dos pontos mais estratégicos para garantir eficiência, autonomia e custo-benefício ao longo do tempo.

 

O diesel é o padrão industrial, sendo amplamente utilizado devido à sua robustez, confiabilidade e facilidade de abastecimento, inclusive em áreas remotas. O consumo específico típico dos geradores a diesel varia entre 205 e 240 g/kWh, o que garante boa eficiência energética e permite longos períodos de operação sem necessidade de reabastecimento frequente.

 

Por isso, recomenda-se dimensionar a autonomia do sistema para 8 a 24 horas, conforme a criticidade da operação.

 

Já o gás natural ou GLP é uma alternativa viável em locais onde há rede disponível. Entre suas principais vantagens estão o menor nível de ruído e emissões, tornando-o mais adequado para ambientes com restrições ambientais ou acústicas. 

 

A decisão entre diesel e gás deve considerar não apenas a disponibilidade local do combustível, mas também fatores como exigências ambientais, autonomia desejada e o perfil de operação do imóvel.

1.3. Qualidade de Energia

Para garantir qualidade de energia adequada em ambientes com cargas sensíveis, como sistemas de TI e automação industrial, é fundamental adotar critérios técnicos rigorosos e soluções específicas.

 

O primeiro ponto é controlar a distorção harmônica total (THD) da tensão, que deve ser mantida inferior a 5%. Níveis elevados de harmônicos podem causar mau funcionamento, aquecimento excessivo e falhas prematuras em equipamentos sensíveis. 

 

O uso de filtros de harmônicas e monitoramento contínuo com analisadores de qualidade de energia são práticas recomendadas para manter esse parâmetro sob controle.

 

Além disso, a instalação de no-breaks de dupla conversão é essencial para garantir a continuidade do fornecimento durante microinterrupções ou variações bruscas de tensão, protegendo sistemas críticos contra quedas e oscilações. 

 

UPS’s modernos oferecem alta eficiência energética e compatibilidade com diferentes tipos de baterias, além de recursos de monitoramento remoto e redundância para máxima confiabilidade.

 

Outro componente importante é o AVR (regulador automático de tensão) de resposta rápida, que estabiliza a tensão fornecida pelo gerador diante de variações de carga, minimizando riscos de sobretensão ou subtensão que podem afetar equipamentos sensíveis.

 

Quando possível, recomenda-se também o uso de excitatriz separada no gerador, pois essa tecnologia proporciona maior estabilidade e resposta dinâmica, reduzindo ainda mais as variações de tensão sob degraus de carga.

 


2. Preparação do Local

Fonte: Autor próprio

 

2.1. Base e Estrutura

Para garantir a segurança, durabilidade e conformidade na instalação de um gerador de energia, alguns requisitos fundamentais devem ser rigorosamente seguidos.

 

A base do gerador deve ser construída em concreto dimensionado para suportar tanto cargas estáticas quanto dinâmicas, assegurando estabilidade e evitando deslocamentos ou deformações ao longo do tempo. É obrigatório o uso de isoladores de vibração entre o gerador e a base, pois eles reduzem a transmissão de vibrações para a estrutura, prevenindo danos e aumentando a vida útil do equipamento.

 

Para proteção ambiental e segurança, é indispensável a instalação de uma bacia de contenção sob o gerador, capaz de reter eventuais vazamentos de óleo ou combustível, além de um dreno dimensionado conforme as normas ambientais vigentes, facilitando o escoamento seguro de resíduos.

 

Outro ponto crítico é garantir que a carenagem do gerador nunca fique encostada em paredes ou outras estruturas, pois isso pode prejudicar a ventilação, aumentar o ruído e dificultar a manutenção.

 

Essas medidas, além de atenderem às normas técnicas e ambientais, evitam problemas futuros e garantem o funcionamento seguro e eficiente do sistema de geração de energia.

2.2. Ventilação e Exaustão

A ventilação e exaustão são aspectos críticos na instalação de geradores de energia, diretamente responsáveis pela segurança, desempenho e longevidade do equipamento.

 

A renovação de ar deve ser dimensionada conforme a dissipação térmica do motor e do alternador, sendo fundamental consultar o datasheet do fabricante para calcular o volume de ar necessário. 

 

Uma ventilação inadequada resulta em temperaturas elevadas ao redor do gerador, o que pode aumentar o consumo de combustível, reduzir o desempenho, causar falhas prematuras dos componentes e até mesmo superaquecer o motor, além de criar condições de trabalho insalubres.

 

A exaustão precisa ser dedicada e isolada termicamente, garantindo que os gases sejam conduzidos para fora do ambiente de forma segura. É obrigatório manter uma distância segura entre o sistema de exaustão e áreas ocupadas, evitando riscos à saúde e à segurança dos operadores.

 

Nunca se deve recircular gases de escape, pois isso pode provocar acúmulo de substâncias tóxicas e comprometer a eficiência do sistema.

 

Obs.: Subdimensionar esse sistema pode reduzir a vida útil do gerador em até 25%, além de aumentar significativamente os custos de manutenção e o risco de falhas operacionais. Em locais confinados, o cuidado deve ser redobrado para evitar superaquecimento e acúmulo de gases, protegendo tanto o equipamento quanto as pessoas e o meio ambiente.

 

2.3. Controle de Ruído

O controle de ruído é fundamental na instalação de geradores, especialmente em ambientes industriais, comerciais e próximos a áreas sensíveis. Os grupos geradores “super silent” normalmente operam com níveis de 65 a 75 dB(A) a 7 metros de distância, atendendo aos requisitos para edifícios comerciais e áreas urbanas, onde o limite costuma ser de até 75 dB(A).

 

Para reduzir ainda mais o impacto sonoro, a instalação de barreiras acústicas pode proporcionar uma atenuação adicional de 5 a 10 dB, dependendo do material e do projeto. A orientação do gerador e das saídas de exaustão deve considerar o vento predominante, evitando que o ruído seja direcionado para áreas ocupadas ou residenciais.

 

É indispensável verificar os limites de ruído estabelecidos pela legislação municipal, pois em áreas residenciais as restrições podem ser mais rigorosas, exigindo níveis abaixo de 55 dB(A) durante o dia e 50 dB(A) à noite. 

 

De forma a mitigar esses efeitos, o uso de carenagens acústicas, silenciadores e o correto posicionamento do equipamento são práticas recomendadas para garantir conformidade e conforto acústico.


3. Instalação Elétrica do Gerador

Fonte: Autor próprio

 

3.1. Dimensionamento de Cabos e Proteções

O dimensionamento de cabos e proteções em sistemas de geração de energia exige critérios técnicos rigorosos para garantir segurança, eficiência e conformidade normativa.

 

A queda de tensão máxima permitida entre o gerador e o Quadro Geral de Baixa Tensão (QGBT) deve ser de até 3%, evitando perdas excessivas e garantindo o funcionamento adequado dos equipamentos conectados.

 

A seção dos cabos deve ser calculada considerando não apenas a corrente nominal, mas também as correntes de partida, especialmente em sistemas com motores, que podem exigir bitolas significativamente maiores para suportar picos momentâneos de corrente.

 

A escolha da bitola adequada depende da corrente máxima prevista. Por exemplo, para uma corrente de 284 A, seria necessário um cabo de pelo menos 185 mm² de cobre. Além disso, fatores como tipo de material (cobre ou alumínio), condições ambientais e tipo de instalação (aérea ou subterrânea) devem ser considerados para garantir durabilidade e segurança.

 

As proteções elétricas devem ser coordenadas e seletivas, permitindo que apenas o trecho afetado seja desligado em caso de falha, sem comprometer todo o sistema. Os dispositivos obrigatórios incluem:

 

  • Disjuntor principal com curva adequada à corrente de operação e características das cargas.
  • Relés 27/59 para proteção contra subtensão e sobretensão
  • Relés 50/51 para proteção contra sobrecorrente
  • Relé 81 para proteção de frequência
  • Proteção de sequência/falta de fase, essencial para evitar danos a motores e equipamentos trifásicos
 

Esses dispositivos devem ser dimensionados conforme as características do sistema e ajustados para garantir seletividade e coordenação com as demais proteções existentes, prevenindo riscos de incêndio, danos aos equipamentos e acidentes operacionais.

 

3.2. Interface com a Rede

A interface com a rede elétrica é um dos pontos mais críticos para a segurança operacional de sistemas com gerador. O uso de uma ATS (chave de transferência automática) com intertravamento é obrigatório.

 

Esse dispositivo garante que, ao ocorrer uma falha no fornecimento da concessionária, o gerador só será conectado à carga após o desligamento completo da rede pública, evitando qualquer possibilidade de energização simultânea.

 

O intertravamento, seja mecânico ou elétrico, impede que o gerador e a rede fiquem conectados ao mesmo tempo, eliminando o risco de acidentes graves, danos a equipamentos e até fatalidades.

 

Jamais se deve operar o gerador em paralelo com a rede sem um projeto específico, equipamentos adequados e autorização formal da concessionária. A operação paralela exige estudos de proteção, sincronismo e controle, sendo restrita a aplicações especiais e sempre sob responsabilidade técnica qualificada.

 

Outro ponto fundamental é a autorização da concessionária para qualquer tipo de interface entre o gerador e a rede pública. A ausência desse procedimento pode resultar em multas, desconexão do fornecimento e riscos legais.

 

Por fim, o fenômeno conhecido como backfeed representa um perigo real: sem o intertravamento adequado, o gerador pode energizar a rede acidentalmente, colocando em risco a vida de eletricistas, equipes de manutenção e terceiros, além de causar danos à infraestrutura elétrica.

 

Por isso, nunca improvise na interface com a rede — a segurança deve ser sempre prioridade máxima.

3.3. Aterramento e SPDA

A proteção contra descargas atmosféricas é fundamental para a segurança de geradores de energia. 

 

A integração do gerador ao SPDA (Sistema de Proteção contra Descargas Atmosféricas) existente é indispensável para minimizar riscos de incêndios, danos estruturais e prejuízos a equipamentos elétricos, podendo prevenir danos que chegam a R$ 100 mil em um único evento.


4. ROI: Quando o Investimento se Paga

Fonte: Autor próprio

 

A análise financeira da adoção de um gerador de energia em operações industriais ou agrícolas demonstra retorno significativo e benefícios estratégicos.

 

Além da economia direta, há benefícios adicionais relevantes:

 

  1. Redução de prêmios de seguro: instalações com backup energético e conformidade técnica podem obter descontos de até 15% nos prêmios de seguro empresarial, devido à mitigação de riscos operacionais.
  2. Valorização patrimonial: a infraestrutura energética robusta pode aumentar o valor do ativo em até 20%, tornando o negócio mais atrativo para investidores e financiadores.
  3. Acesso a financiamentos facilitados: empresas que investem em soluções de energia eficiente ou híbrida (diesel + renováveis) têm acesso facilitado a linhas de crédito e financiamentos com condições diferenciadas, alinhadas a políticas de sustentabilidade.
  4. Minimização de  paradas: garantia de continuidade operacional e proteção de processos críticos como cadeia de frio e linhas de produção contínua. Esse impacto resulta em um aumento na margem anual , pois evita perdas de produção, desperdício de insumos e custos com multas contratuais por atrasos ou interrupções.


5. Conclusão

Instalar um gerador de energia vai muito além de adicionar um equipamento à sua instalação — trata-se de construir fortaleza operacional e transformar um custo em um investimento estratégico.

 

Quando o dimensionamento é correto, a instalação é profissional e a manutenção é disciplinada, sua empresa obtém benefícios concretos e recorrentes: proteção da receita contra interrupções, redução de riscos humanos e legais, melhoria da credibilidade com clientes e investidores, geração de economia mensurável e recorrente.

 

Para operações industriais e do agronegócio, a diferença entre sucesso e fracasso está nos detalhes técnicos e na execução profissional. A instalação correta de um gerador envolve análise detalhada das necessidades energéticas, escolha do equipamento adequado, integração segura ao sistema elétrico e conformidade com normas, garantindo eficiência, segurança e longevidade do sistema.

 

A Regulus Energia apoia profissionais com soluções completas e personalizadas, incluindo:

 

  • Diagnóstico de carga baseado no processo produtivo: Avaliação detalhada das demandas reais da operação para dimensionamento preciso do gerador
  • Projeto completo: Planejamento e execução de todas as etapas, garantindo integração eficiente e segura do sistema
  • Instalação com conformidade: Execução por equipe qualificada, seguindo rigorosamente as normas técnicas e de segurança
  • Comissionamento: Testes técnicos, validação de desempenho e emissão de Anotação de Responsabilidade Técnica, assegurando conformidade e rastreabilidade
  • Plano de operação e manutenção customizado: Rotinas preventivas e corretivas adaptadas à realidade do seu local, maximizando a disponibilidade e a vida útil do equipamento

 

Se sua operação é crítica e você prefere dormir tranquilo, conte com uma engenharia que trata energia como ativo estratégico — e não como um simples acessório.

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