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Qual a Diferença entre SPDA e Aterramento?

Entenda definitivamente como SPDA e aterramento se diferenciam e se relacionam na sua instalação elétrica, com mitos e verdades


Você já considerou como uma falha elétrica sutil pode escalar para uma parada total, custando milhares de reais em produção perdida?

 

No agronegócio e em outros setores, onde tempestades imprevisíveis são rotina, confundir SPDA com aterramento não é só um erro técnico, mas também arriscar o coração da sua operação.

 

Entender essas diferenças pode transformar vulnerabilidades em vantagens competitivas, minimizando riscos que vão de choques a surtos que danificam equipamentos críticos como sistemas de automação ou pivôs de irrigação.


1. O Que São SPDA e Aterramento?

Representação ilustrativa do SPDA à esquerda e do aterramento à direita

SPDA, ou Sistema de Proteção Contra Descargas Atmosféricas, é o sistema que intercepta e conduz descargas atmosféricas ao solo de forma controlada. Em síntese, ele funciona por meio de captores, condutores de descida, interligações, sistema de aterramento e equipotencialização, além de dispositivos de proteção contra surtos (DPS) coordenados.

 

A norma que rege é a ABNT NBR 5419, partes 1 a 4. Assim, quando essas diretrizes são aplicadas de forma rigorosa, o risco estrutural diminui significativamente.

 

Por outro lado, o aterramento de proteção equaliza potenciais e cria um caminho de baixa impedância para correntes de falta e surtos. Desse modo, ele garante a atuação rápida de disjuntores e dispositivos de proteção, bem como a segurança de pessoas.

 

É regido pela ABNT NBR 5410, para instalações de baixa tensão, e pela ABNT NBR 16747, para inspeção em instalações elétricas.

 

Consequentemente, quando ambos os sistemas são integrados, a continuidade operacional melhora sensivelmente.


A Verdade Que Poucos Destacam

Um SPDA “perfeito” com aterramento “ruim” é, na prática, um SPDA ruim. Afinal, o desempenho em alta frequência, que vai de quilohertz a megahertz, e não apenas a resistência ohmmétrica em corrente contínua, define a eficácia real para raios e surtos. 

 

Portanto, é nesse ponto que a maioria dos projetos falha silenciosamente, ainda que as medições de resistência pareçam aceitáveis.


2. As Diferenças Que Realmente Importam Para Sua Operação

Enquanto o SPDA lida com correntes atmosféricas de alta magnitude, ou seja, raios que podem induzir correntes de até 200 kA, o aterramento gerencia falhas internas do sistema elétrico, mantendo a estabilidade operacional diária. Assim, a distinção conceitual se traduz em decisões práticas que impactam diretamente a sua produção.

 

O SPDA protege contra ameaças externas. Em fazendas com silos metálicos ou em indústrias com tanques de armazenamento, um raio direto ou indireto pode causar ignições, explosões secundárias ou surtos que danificam redes inteiras. 

 

O aterramento protege contra falhas internas. Ele dissipa correntes de curto-circuito, elimina fugas de energia e protege contra choques elétricos.

 

Por exemplo, em regiões nordestinas, onde solos arenosos e variações de umidade são comuns, um aterramento mal dimensionado pode causar variações de tensão que levam a falhas em motores, inversores e sistemas de automação. Em outras palavras, mesmo sem descargas diretas, a operação sofre.


A Sinergia Que Multiplica a Proteção

A integração entre SPDA e aterramento forma um escudo completo. Em operações com painéis solares, geradores de armazenamento ou sistemas de automação, combinar corretamente os dois sistemas reduz oscilações, previne quebras de equipamentos e corta perdas energéticas.

 

A ABNT NBR 5419 é clara: sem equipotencialização funcional e DPS coordenados, os surtos encontram caminhos alternativos.

 

Frequentemente, esses caminhos passam pelos seus equipamentos mais caros. Portanto, uma arquitetura interna coerente é tão essencial quanto o captor no telhado.


3. Três Verdades Técnicas Que Quase Ninguém Menciona

3.1. Impedância em Alta Frequência É Mais Importante Que Resistência

A medição clássica com terrômetro entrega resistência em baixa frequência. Entretanto, para surtos de raio, com formas de onda típicas de 10/350 microssegundos e 8/20 microssegundos, conforme IEC 62305 e IEC ou ABNT NBR 61643, o que governa o pico de tensão nos seus quadros é a impedância total do caminho.

 

Assim, conexões longas, dobras de 90 graus, ferragens soltas e cordoalhas corroídas aumentam a indutância e multiplicam o estresse dielétrico sobre inversores, interface homem-máquina e controladores lógico programáveis.

 

É por isso que instalações “com 2 a 3 ohms” ainda queimam eletrônica sensível. A NBR 5419-4 recomenda trajetos retilíneos, raios de curvatura amplos e conexões curtas. Portanto, detalhes de geometria fazem toda a diferença na prática.

3.2. O Mito do "Ohm Específico Universal" Pode Custar Caro

Nem a NBR 5410 nem a NBR 5419 estabelecem um “valor mágico” único de resistência de aterramento. A exigência real é garantir a segurança (tensões de toque/passo limitadas) e a atuação das proteções dentro do tempo admissível.

 

Nos solos, perseguir determinado ohm às cegas pode custar caro e não resolver o problema mais importante: geometrias ruins e falta de equipotencialização funcional.

 

Um projeto com malha, anel e interligações pode ser seguro mesmo com valores maiores, desde que a coordenação de proteções esteja correta. Segurança é função de projeto, não de um único número.

3.3. Equipotencialização Funcional Reduz Falhas em 60-80%

Laços de terra separados (criados por “boa intenção”) geram diferenças de potencial entre subsistemas e criam correntes de circulação que destroem interfaces. A solução madura é o barramento principal de equipotencialização (BEP), interligando massas, armaduras, blindagens e o condutor de aterramento do SPDA.

 

Sem DPS coordenados por zonas de proteção (LPZ 0 → 1 → 2), os surtos entram pelo cabeamento de energia e sinal, contornam o para-raios e encontram seus controladores. Fabricantes e literatura baseada na IEC 61643 reportam reduções de 60-80% em falhas de eletrônica de potência quando a coordenação por zonas é aplicada corretamente.


4. Inspeções Não São Opcionais

A NBR 5419 estabelece inspeções visuais e completas com periodicidade de 1, 3 ou 5 anos, conforme nível de proteção e ambiente. Além disso, seguradoras e auditorias ISO frequentemente modulam prêmio e franquia com base em laudos recentes, ART, diagramas, fotos e registros de inspeção.

 

Ignorar esse ciclo de manutenção é trocar um custo previsível por um passivo imprevisível. Ademais, existe exposição às normas regulamentadoras em caso de incidentes com lesão ou fatalidade. Logo, a disciplina de inspeções é parte da governança de riscos.


5. Onde a Maioria dos Projetos Falha

SPDA “no telhado”, mas sem integração elétrica interna:  Captores e descidas estão instalados. Contudo, sem equipotencialização ou DPS, a descarga encontra caminho pelos cabos de sinal e de alimentação e segue até os CLPs e inversores. Em seguida, vêm as paradas e os custos indiretos.

 

Conexões longas e com dobras de 90 graus: A indutância eleva os picos de tensão de surto e, consequentemente, anula parte da proteção. Portanto, trajetos curtos e com curvas suaves devem ser prioridade.

 

Terras “separados” para potência e TI: Na prática, essa prática cria diferenças de potencial entre sistemas e queima interfaces de comunicação. Assim, a referência profissional é um barramento de equipotencialização principal bem projetado, com caminhos de retorno controlados.

 

Ausência de plano de inspeção: Corrosão e afrouxamento elevam a impedância com o tempo. O sistema “morre em silêncio” e, então, você só descobre na primeira tempestade. Portanto, um plano de inspeção com torqueamento, medições e registros é indispensável.


6. ROI Real: Menos Paradas, Menos “Queima Silenciosa”, Seguro Mais Barato

O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) documenta que descargas indiretas induzem surtos capazes de gerar tensões de dezenas de quilovolts nos alimentadores. Em outras palavras, não é preciso “levar um raio no telhado” para perder controles de motores inteiros.

 

Adicionalmente, literatura técnica de DPS e guias de fabricantes reportam reduções de 60 a 80 por cento em falhas de eletrônica de potência quando há coordenação de DPS por níveis e equipotencialização correta.

 

Em setores com custo de parada elevado, um único evento evitado paga o programa completo de adequação, que inclui SPDA, equipotencialização, DPS e manutenção, em semanas e não em anos.

 

Além disso, conformidade com NBR 5419 e NBR 5410 documentada melhora tratativas com seguradoras, reduz litígios e reforça governança.


7. O Que Fazer Agora: Prioridades Executivas

Avalie o risco com base na norma, considerando altura da edificação, uso, densidade de descargas na região e ocupação. Em seguida, faça medições em épocas de sazonalidade que mudam drasticamente o desempenho do aterramento.

 

Depois, reprojete a equipotencialização e coordene DPS por zonas, com ligações curtas e barramentos dedicados.

 

Finalmente, institua manutenção preditiva: inspeções visuais trimestrais, completas anuais, laudos com especialistas, fotos, diagramas e um plano de ações documentado.  


8. Conclusão: Ativo Invisível ou Passivo Oculto?

Tratar SPDA e aterramento como “custo” é abrir mão de margem e assumir riscos desnecessários. Contudo, tratar como ativo invisível, projetado para sua realidade climática e de solo, com manutenção séria, é o que separa quem vive apagando incêndio de quem domina o próprio destino operacional.

 

A Regulus Energia presta assessoria energética com diagnóstico conforme as principais normas, avaliação de risco, reprojeto de equipotencialização e DPS e plano executivo ajustado às janelas de produção local, com laudos e documentação alinhados a auditorias e seguradoras.

 

Se precisar de uma análise independente, a Regulus Energia atua como parceiro técnico para transformar risco elétrico em vantagem competitiva mensurável.

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